o mar do poeta

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quinta-feira, fevereiro 24

ROTA DOS CANHÕES - 2a. Parte - JOSÉ MARTINS

Sunday, August 24, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - A IMPORTÂNCIA DOS PORTUGUESES NA DEFESA DO REINO DO SIÃO

Parte 2ª
Como o descrevemos na parte 1ª, com a descoberta do caminho Marítimo da Índia em 1498 por Vasco da Gama uma nova era principiava para a Ásia. O continente asiático, séculos antes de os portugueses o descobrirem era sabido na Europa que existia, só que vivia no imaginário das pessoas e, a figura lendária do Preste João das Índias.
A pimenta, o cravo, a canela, as sedas, as porcelanas eram vendidas nos mercados das grandes cidades europeias e nas costas mar mediterrâneoo. Especialidades orientais que seguiam pelas águas do Golfo Pérsico, do Mar Verelho e da milenária "Rota da Seda". Não nos iremos adiantar em designar os caminhos náuticos ou terreste por onde seguiam as mercadorias asiática, mas seguiremos o tópico da importância de Portugal na defesa do antigo Reino do Sião. Vasco da Gama ter-se-ía valido de informações de pilotos de navios muçulmanos na costa de Moçambique, já familiarizados com as rotas da Índia. Embarcações arábes, de mercadores, que nunca se atreveram (talvez o tenham tentado) passar o Cabo Bojador do Índico para o Atlântico, devido às águas encrespadas com o encontro, de várias correntes marítimas cuja fragilidade das suas embarcações não conseguiriam vencer. Vasco da Gama quando chega à Índia não consegue penetrar em Goa, encontrou hostilidades e fica ao largo da costa de Cochim e obtém as boas graças do Rei. Porém as naus de regresso a Lisboa seguem carregadas de pimenta e outras riquezas orientais e informações detalhadas para o Rei Dom Manuel I. D. Francisco de Almeida parte de Lisboa a a 24 de Março de 1505, com uma armada de 22 navios e com ordens do Rei D.Manuel que deveriam regressar 12 e ficarem na Índia 10. O monarca pretende que os pontos principais onde se procedia o comércio fossem fortificados. Confere todos os poderes a D. Francisco de Almeida para que mandasse construir fortes na Quiloa, Angediva e Cananor. Consegue uma uma aliança com o Rei do Cochim que irá utilizar como sede e o centro de operações para atacar as embarcações, muçulmanas e turcas em direcção ao Golfo Pérsico e Mar Vermelho, cuja carga depositada nos porões eram as especiarias. Mas voltamos a 1506, saiu de Lisboa uma armada do Tejo sob o comando de Tristão da Cunha e uma nau da sua frota é comandada por D.Afonso de Albuquerque que tinha por missão de vigiar e controlar as navegações do Mar Vermelho. Conquistou no caminho Socotorai e faz ali a sua base. D. Afonso de Albuquerque era o homem em que o Rei D. Manuel confiava e antes de partir para a Índia, entregou-lhe uma credencial, secreta, em que o nomeava como Governador, ao fim do termo de três anos de D. Francisco de Almeida. Albuquerque durante a espera que terminassem os três anos, seguiu em constantes guerras, no mar da Índia, com os mouros e conquista Curiate, Orfação e Ormuz. Estão assim os caminhos das navegações árabes e dos turcos bloqueados pelas naus portuguesas. Em Outubro de 1509 Afonso de Albuquerque, com ajuda do Marechal do Reino D. Fernando Coutinho, assumiu o cargo de Governador da Índia e logo de seguida é senhor de Calecute. No ano seguinte, em Fevereiro, entrou em Goa, pelos meios diplomáticos de que Albuquerque era mestre e ataca, em Maio, o Idalcão, de Goa, Yusofo Adil Khan e foi derrotado, mas reconquista-a, em 25 de Novembro. A posse de Goa não teria sido vista por bons olhos pelos goeses e consta que entre eles corria: " a conquista de Goa por um povo estrangeiro distante" foi profetizada como "jogui". Durante os cinco anos de permanência de Albuquerque nos mares da Índia, do Golfo Pérsico e Mar Vermelho, deu-lhe conhecimentos bastantes sobre o empório comercial de Malaca de onde, praticamente, toda a "mercancia" navegava nas águas sob seu controlo e dos portos comerciais. Falta, agora, a Albuquerque tomar Malaca, para que todo o comércio da Ásia e do Oriente seja pertença de el-Rei de Portugal D. Manuel I, de quem era amigo e fiel servidor. Afonso de Albuquerque foi recolhendo informações, através das tripulações dos barcos muçulmanos, que aportavam nos centros comerciais de Cochim, Calecute e Ormuz, com quem teria tido bom relacionamento a forma como deveria atacar Malaca, o maior e significativo mercado das especiarias de todo o Oriente. Em 1508, antes de Goa ser conquistada, as naus portugueses, dominam o mar da Índia e mais ao sul. Albuquerque, homem de muito rigor e leal ao seu Rei D.Manuel I envia-lhe um relatório e além de o informar das suas conquista na Índia, dá-lhe conta da grandeza de Malaca e que deveria ser conquistada. D.Manuel I bem sabe que Albuquerque é o homem em que pode confiar e não hesita em ordenar em que fosse equipada uma armada de 17 velas, que sairam do Tejo a 5 e a 9 de Abril de 1508, Diogo Lopes de Sequeira, toma o comando de quatro, já com o objectivo de conquistar Malaca, enquanto Jorge de Aguiar tem à sua conta 13 naus, que seriam 8 para voltarem ao Tejo com carregamento de especiarias e, as restantes 5 para se juntarem à armada de Diogo Lopes de Sequeira para o, projectado, assalto a Malaca. Diogo Lopes de Sequeira já era conhecedor da rota marítima da Índia e o homem indicado para conquistar a praça que antes já teria abordado e descoberto a ilha de Sumatra. Lopes de Sequeira, antes de chegar a Malaca, lançou o ferro em Sumatra que já ali estivera, coloca um padrão na cidade de Pedir e outro em Pecem e chega a Malaca a 11 de Setembro de 1509. Não encontrou, aparentemente, hostilidades da parte dos malaios, que eram absolutamente falsas e Lopes de Sequeira e seus homens teriam sido agarrados "à mão" se não tivesse sido avisado por uma mulher malaia, proprietária da estalagem que habitualmente frequentava. Fugiu apressadamente para a nau e não conseguiu evitar que alguns dos seus homens ficassem cativos do sultão de Malaca. Entre os prisioneiros contavam-se Rui de Araujo, Duarte Fernandes que viria aprender a língua Malaia e mais tarde o homem, chave, para o encetamento, primário, das relações entre Portugal e o Reino do Sião. Depois da tentativa falhada de Diogo Lopes de Sequeira procurar as boas graças dos sultão de Malaca, apresentando-se na praça como amigo e nunca com os propósitos (escondidos) de mais tarde apoderar-se da soberania usando, como é evidente as armas. Albuquerque não era homem que desejasse que seus projectos falhassem. A próxima tentativa de conquistar Malaca já não seria confiada a homens, mesmo que este fossem, de sua confiança seria ele mesmo que a iria tomar. O Governador da Índia, Afonso de Albuquerque, com tantas glórias já obtidas na Índia e senhor de outras praças o seu orgulho não poderia ser ferido e Malaca teria que ser praça portuguesa, fosse pela diplomacia ou pela acção da pólvora. O Grande Afonso de Albuquerque parte de Cochim com uma armada de 18 navios, onde neste grupo estavam incluíudos 3 galeões. Com ele segue a fina flor de comandantes: D. João de Lima; Fernão Teles Dandrade: Gaspar de Paiva; James Teixeira; Bastião de Miranda; Aires Pereira, Jorge Nunes de Lião; o patrão Dinis Fernandes de Melo; Pero Dalpoin, Auditor da Índia; António Dabreu; Nuno Vaz de Castelo-Branco; Simão de Dandrade; Duarte Silva; Simão Martins; Afonso Pessoa; Simão Afonso e Jorge Botelho. Nas costa de Ceilão a armada dá conta de uma pequena embarcação, Albuquerque ordena que seja aprisionada e coloca-a à frente da armada para que lhes indique o caminho para Malaca. Uma tempestade faz naufragar o galeão sob o comando de Simão Martins, que seguia com os porões carregados de cobre, cujo o peso da carga iria provocar um rombo na proa. Porém toda a tripulação é salva e metida nau sob o comando de Duarte Silva. Talvez nos tenhamos adiantado demasiadamente, no projectos de Albuquerque na conquista de Malaca e bem merece ser tratada, noutra ocasião dado que a história é longa e até com alguma complexidade. Como o afirmamos anteriormente, umas vezes Albuquerque usa a diplomacia e outras as armas e será, assunto, a tomada de Malaca a ser desenvolvida em próximo futuro. até porque possuímos muita documentação e alguma bem se pode considerar inédita. Depois da posse de Malaca, Albuquerque pretende, agora, travar relações com o monarca do Reino do Sião, Rama Tibodi II. Bem informado já estava que as relações com Ayuthaya seriam de primordial importância para juntar ao feito da conquista de Malaca, cuja praça estava sob a soberania do Rei do Sião, só que o Sultão tinha entrado em rebeldia e recusou-se a enviar a Ayuthaya um seu emissário, prestar vassalagem ao Rei e entregar-lhe o tributo em ouro. Albuquerque está a par de tudo isto e faz a sua jogada, enviando a Ayuthaya Duarte Fernandes, detido em Malaca, de quando o fracasso de Diogo Lopes de Sequeira e agora libertado por ele. Duarte Fernandes durante o seu cativeiro em Malaca aprendeu a língua malaia e rudimentares conhecimentos da língua siamesa e seria o homem indicado para que Albuquerque enviasse a Ayuthaya. Um junco chinês de nome Pulata partiu para Ayuthaya e Duarte Fernandes é um dos passageiros e enviado de Afonso de Albuquerque. Seria o primeiro português a conhecer o Reino do Sião. Gostaríamos de aqui salientar e informação para que outros historiadores, investiguem (com algumas dúvidas), que antes de Duarte Fernandes pisar terras do Sião já em 1505 o italiano Ludovico Varthema teria visitado o Reino de Pegu, Malaca e Ayuthaya, que partindo de Veneza em 1502, em puro aventureirismo, tomando "boleias" em barcos. Para sobreviver empregou-se na Feitoria portuguesa em Cochim, em 1508, regressou à europa, pela rota do Índico e do Atlântico e chega a Lisboa em 1508. Poder-se-á acreditar que teria revelado alguns dados, do que teria visto no Sudeste Asiático na Corte do Rei D. Manuel I, que todos, que fossem, eram bem aceites. Ludovico Varthema foi contemporâneo de Leonardo da Vinci, de Miguel Ângelo, Tizian, Rafael, Lutero e podemos acrescentar Damião de Gois, época da reforma, luterana e do Renascimento da Europa. Varthema escreveu um livro de umas 150 páginas que intitula "As Viagens de Ludovico Di Varthema".
Depois do sucesso de Duarte Fernandes, o primeiro emissário de Albuquerque a Ayuthaya a dar conta ao Rei Rama Tibodi II da conquista de Malaca, prepara outra missão diplomática, chefiava por António Miranda de Azevedo e Duarte Coelho. Bem se pode avaliar o perfil e o dom de diplomata que Albuquerque possuia. Antes de a missão partir para Ayuthaya, em 1512 e dá a Miranda de Azevedo instruções seguintes:
"Direis ao rei do Sião como el-rei de Portugal, meu senhor, me mandou a este porto de Malaca tomar emenda da treição que o rei e seus governadores fizeram a um seu seu capitão-mor e gente que a ele mandara tratar de amizade, e que sobre seu seguro lhe mataram e cativaram muita parte da gente em terra.
Lhe direis que, depois de eu ter chegado a este porto, mandara muitas vezes pedir ao rei que fizesse rezão de si e mandasse entregar os portugueses que tinha cativos e tornar toda a fazenda que tinha tomado; e que ele com a sua desordenada aoberba nunca respondera a propósito, nem quisera sua amizade, nem fazer assento de paz com ele, favorecendo os mouros da Índia que ali tinham suas naos, contra o serviço d´el-rei de Portugal.
Lhe direis quem vendo eu sua falsa determinação, cometi a cidade e a entrei por força e venci o rei, que escapou ferido, e a sua gente e alifantes, e por não destruir a cidade, me tornei a embarcar e estive assi por espaço de quinze dias, esperando seu arrependimento, e que tendo o rei experimentado o esforço dos cavaleiros portugueses não deixara todavia de se determinar em guerra, sem querer que antre mim e ele houvesse concerto de paz e amizade.
Lhe direis que, por lhe reprimir esta sua contumácia, tornei outra vez a cometer a cidade e o desbaratei e matei muita gente e alguns capitães seus, e tomei seus alifantes e queimei seus paços, e que perdoei ao povo e mercadores por não se perder a cidade e trato da terra, e que lhe dou esta conta, porque sei certo que há-de folgar muito com a destruição deste rei pela guerra que com ele sempre teve.
Lhe direis que el-rei de Portugal, meu senhor, folgará muito de suas naos e gente tratarem em Malaca, e que esta era a principal rezão por que folguei de a ter tomado; e que tendo ele necessidades de suas armadas e gente pera conservação de seu estado, que eu como seu capitão-geral o servirei em tudo o que me mandar."
B.Albuquerque, Comentários, III, cap. XXXVI.Continua
José Martins

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