o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 5a. Parte

Saturday, July 12, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 5ª
Os quatro canhões referidos na parte anterior (4) têm semelhanças, embora o de S.Lourenço, segundo o Padre Manuel Teixeira afirme: " no canhão de S. Lourenço estão gravadas as armas de Portugal, ladeadas de dois anjos, segurando um escudo; o anjo da direita leva na cabeça uma cruz, o da esquerda um astrolábio; logo abaixo está o brazão de armas de Macau (a Cruz de Santiago), rodeada dum círculo que tem a inscrição: "da Cidade de Nome de Deuz da China"; mais abaixo num cartucho: MANUEL TAVARES BOCARRO A FEZ A 1627".
Assim se pode concluir do Catálogo do Museu da Torre de Londres e de outras descrições dos outros quatro canhões, ladeados por dois anjos e o brazão de Macau. Portugal como é sabido perdeu a soberania em favor de Espanha, em 1580, mas o povo português nunca a aceitou. Em todas as cidades, vilas e aldeias são registados motins populares. Era duro para a sociedade da época de orgulho e de alma patriótica, lusa, aceitar a subjugação a Castela. Numa pequena aldeia, transmontana, do concelho de Anciães o juramento de fidelidade aos espanhois só viria acontecer a 20 de Janeiro de 1581 e quando nos Açores, Ilha Terceira, só em fins do ano de 1583 a população se renderia ao domínio castelhano.
No ano de 1581, Filipe I de Portugal e II de Espanha, presidiu às cortes de Tomar e os portugueses pronunciaram-se, bem claros, para o monarca, solicitando-lhe: "Portugal nunca se juntasse a Castela, regendo-se pelas suas leis e usos próprios. Pretendiam os portugueses, uma monarquia dualista: "um Rei com duas coroas, mas cada país com o seu governo e com isto suas leis, costumes e tradições". O rei espanhol parece que tudo aceitaria, ou talvez para não criar descontentamentos e revoltas populares. O heroismo de D. Nuno Álvares Pereira, no reinado de D.João, a 14 de Agosto de 1385 e na proximidade dos 200 anos, ter derrotado os castelhanos na batalha de Aljubarrota, estava vivo dentro do espírito dos portugueses. Dentro do que Filipe I, tinha acedido nas cortes de Tomar, nos primeiros 15 anos da dominação filipina, os canhões fundidos ostentavam, gravadas, as armas de Portugal. Nos últimos anos do reinado de Filipe I, os canhões portugueses continuam com as armas gravadas de Portugal. A estas, porém, sobrepunha-se à legenda PHILIPVS REX ESPANIARVOM, como ainda se encontram (???) duas peças no Museu de Angola em Luanda. No reinado de Filipe II de Portugal e III de Espanha, as bocas de fogo fundidas em Portugal continuavam a manter as armas reais da monarquia portuguesa, mas guarnecidas pelo "Tosão de Oiro" insígnia de uma ordem de cavalaria espanhola, cujo rei era o seu supremo representante. A partir da década vinte do século XVII, a artilharia portuguesa passa a estar subordinada ao "Capitan General de la Artillaria de España e com isto os canhões a ostentar as armas reais de Espanha às quais se sobrepunha um escudete com as de Portugal. Pelas destas se podem observar no Museu Militar de Lisboa. Porém digno de realçar que os fundidores de artilharia em terras de ultramarinas procediam diferente dos da metrópole, no que se referia à gravação nas peças, ignorando as insígnias espanholas. Pedro Dias Bocarro na sua obra prima o "Canhão de Chaul", fundido 14 anos depois da Espanha, assumir a soberania de Portugal, na bolada, moldou as figuras da Virgem Maria, de S.Pedro e S.Paulo.
Outras peças, saídas de suas mãos, moldava as armas da cidade de Goa, ou seja, o escudo real coroado sobre a roda de navalhas de S.Catarina. Manuel Tavares Bocarro, em Macau, usava o mesmo critério, moldava-as com as armas de Macau, o escudo português sob uma coroa real fechada e ladeada de dois anjos sobrepondo-se à Cruz de Santiago, envolta num círculo com a legenda "Da Cidade de Nome de Deos na China". Os fundidores portugueses que operavam nas terras de além-mar, não aceitavam a dinastia filipina e, seria, uma forma de protesto e vingança ignorem as insígnias espanholas nas obras que saíam dos seus fornos. Segundo o historiador padre Manuel Teixeira que viveu, por mais de setenta anos em Macau e uma vida dedicada a escrever livros em cima da história da passagem dos portugueses no Oriente, na sua obra "Macau e a sua Diocese", vol. VI, p. 274, no Museu do Príncipe Shimadzu, em Kagoshima, Japão, existiu até 1929, um canhão com a seguinte legenda: "DE ANT SOARES VIVAS M TB.
Peça, embora fundida pelo Manuel Tavares Bocarro, foi uma encomenda do Capitão João Soares Vivas, para armar a sua embarcação. O Vivas era um comerciante localizado no forte da Barra. Mas o brilhante historiador o Professor Charles Boxer, em carta que dirigiu a N. Valdez dos Santos em 15 de Janeiro de 1980 informava-o:"Também esclarecer que o canhão em Kagoshima (que eu conheço de visu) não era feito para João Soares Vivas, mas sim para seu irmão António Soares Vivas, que também cursou aqueles mares do Extremo Oriente, comerciando e combatendo. Ele figura como tal na "Carta Geral dos Servidores do estado da Índia em 1635 "feita pelo Viso rei Conde de Linhares, e impresso em Biblos (Coimbra, 1993) p. 21 da separata. Ele é citado em outras fontes contemporaneas também, como nos Assentos de Conselho do estado da Índia, I, 1613-1633 (1593, p. 299, aparecendo João Soares Vivas em p. 356 da mesma obra."
N. Valdez dos Santos na sua apreciação à carta recebida do Prof, Charles Boxer informa que ficou perplexo com a informação recebida. Manuel Tavares Bocarro tinha por obrigação de fundir artilharia só para a "Fazenda Real", como então se dizia que tentou adquirir os direitos de propriedade sobre a fundição a fim de poder trabalhar a mesma em carácter particular. Assim a sua admiração pelo facto de o Bocarro tivesse fundido uma peça para o António Soares Vivas, embora uma figura interessante na vida dos macaenses, mas que não lhe parecia tão ilustre que merecesse a honra, impar na história da nossa fundição, ter o seu nome gravado num canhão que pertencia ao rei de Portugal. O ano de 1631 foi um ano de grande azáfama de Manuel Tavares Bocarro, numa relação da artilharia em Macau no ano de 1846, eram mencionadas sete peças, de calibres compreendidos entre 12 a 34 cm, fundidas naquele ano. Uma dessas peças ainda se encontravam, nos finais do século passado, no Forte de S. Francisco e, segundo A.F. Marques Pereira, era de bronze "de calibre 36 e grande comprimento" e tinha a seguinte legenda:"MANUEL TAVARES BOCARRO A FES POR ORDEM DE FRANCISCO CARVALHO ARANHAS SENDO PROCURADOR D´ESTA CIDADE NO ANO DE 1631".
N.Valdez dos Santos continua: "Esta inscrição, pouco vulgar, não nos parece que seja uma cópia fiel da legenda que estaria gravada na peça. Com efeito não era hábito indicar-se, em primeiro lugar, o nome do fundidor - que aliás, não está conforme a ortografia da época, pois escrevia-se: "Manoel" - e não se nos afigura viável que Francisco Carvalho Aranha - e não"Aranhas" - pudesse, como procurador da cidade de Macau dar ordens para que o mestre da real Fundição de Canhões fundisse uma peça de artilharia. Mau grado o elevado número de canhões de bronze, de rara perfeição técnica e artística, que sairam das oficinas de Bocarro este, até ao início da década de 1630, não passava de um simples cidadão que nem sequer merecia que o seu nome figurasse nos documentos oficiais sendo designado, quando era necessário, "como fundidor que assiste na China". Apesar da sua riqueza, que deveria ser uma das maiores de Macau, Bocarro passava despercebido entre as poucas dezenas de moradores europeus e, só numa das actas da Câmara da Cidade, é referido, mas como simples assistente. É só por alturas de 1635 que Manuel Tavares Bocarro atinge o auge da sua carreira, através de uma obra que hoje quase se desconhece - a fundição de canhões de ferro. Foram os seus trabalhos no campo da fundição de ferro que tornaram o seu nome conhecido e que permitiram que figurasse nos documentos oficiais da época como o melhor fundidor português de artilharia.
CONTINUA...José Martins
P.S. Conteúdos inseridos, graças à obra, que já anteriormento mencionada extraídos do trabalho de N. Valdez dos Santos - Manuel Bocarro o Grande Fundidor - Lisboa MCMLXXXI.

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