o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 12a. Parte

Tuesday, July 29, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 12ª
A 4 de Março de 1643, seguiu de Macau para Lisboa uma carta em que dava conta ao Rei D. João IV as misérias passadas em Macau durante a subjugação de Portugal à coroa de Castela era assim, parte, do conteúdo: " He este clima per natureza de grandes diçensões e q provoca a desunião e em particular entre as cabeças do governo". Porém parece que havia constantes atritos entre os moradores e os governantes, incluindo o Rei e o vice-rei da Índia isto devido a uma velha questão que vinha dos anos de 1624 de quando o conde de Vidigueira nomeara D. Francisco de Mascarenhas para capitão geral de Macau que lhe outorgara um Regimento que limitava consideravelmente as transações comerciais daquela praça e especialmente com Manila. Macau, encravado na China, constitui uma pequena península com cerca de uns, pouco mais, de 4 quilómetros, era e como foi por séculos um porto franco e aberto à vivência de todo o género de pessoas e traficantes. Por tal os habitantes reagiram e não aceitaram o imposto pelo Regimento transmitido por D. Francisco da Gama, sob as ordens do conde da Vidigueira. Correu por lá que o próprio Filipe II de Espanha não teria, completamente, acordado com o texto daquela imposição do Regimento e teria recomendado ao vice-rei da Índia que no que se referia ao comércio com Manila que fossem concedidas mais facilidades. Nos habitantes de Macau nasceu a ideia de tornarem a península independente de Goa e fazerem do território um empório comercial e de maior identidade no Oriente. Ora todas as ordens emanadas em Macau, pelo governador, tinham a chancela do vice-rei da Índia, cujas estas o governador de Macau, a quem lhe devia toda a obediência não poderia contrariar de que viriam acontecer alguns distúrbios e, por algumas vezes, atingirem aspectos de gravidade. Entretanto o descontentamento não atingia só os moradores mas igualmente os representantes da Igreja. Entre os religioso havia disputas isto porque Filipe I de Espanha chegou a recomendar ao vice-rei da Índia para que não autorizasse o estabelecimento de duas congregações em Macau que eram os padres Jesuitas da Companhia de Jesus e a dos Capuchos. O monarca desejava no território, apenas, os Jesuitas, que os considerava senhores, espiritualmente, absolutos de Macau e que fossem eliminados os Capuchos. A Restauração da monarquia portuguesa veio incutir mais ânimo na gentes de Macau para que no futuro não estivesse Macau dependente de Goa. Foi criado uma linha política de pensamento económico com os objectivos de aproximar Portugal do Oriente com as praças comerciais da China e do Japão. Macau continuava a depender cada vez mais das autoridades sínicas e isto contribuia para a caída da autoridade portuguesa e a morte lenta do porto franco. Por cada alteração que ia surgindo, havia longos sussurros e ajuntamentos de grupos de pessoas nas ruas, discutindo e criticando as imposições que contribuiam para um descontentamento generalizado. Só em 1627 aparece designado, verbalmente, o nome de Manuel Tavares Bocarro de quando houve um levantamento da população contra o capitão geral D. Filipe de Mascarenhas. Foi elaborada uma lista a que lhe fora dado o nome de "Relação de Protesto" com mais de um cento de assinaturas onde continha os nomes de mais 100 proeminentes figuras da vida macaense. Porém, embora, Manuel Bocarro estivesse do lado dos protestantes não inseriu a sua assinatura na lista "Relação de Protesto": " Manoel Tavares Bocarro Mestre da fundição real não se assinou; e tem precedido em tudo muy honradamente",, como assim teria informado o administrador Manuel Ramos em 2 de Agosto de 1637, ou seja 10 anos depois. Entende-se aqui que o fundidor com negócios ligados à coroa não pretende ser envolvido em protestos e entrar em controvérsias com o capitão geral de Macau. Mais tarde Bocarro iria relatar que ele e mais oito pessoas que não incluiram os nomes na lista "Relação de Protesto" tiveram um mau encontro com os opositores, ficaram retidos pelos "matarê" e conta que apesar dos perigos que correra "o não obrigou nada a largar o serv.º de V.Mag.de (nem) as grandes promessas q faziam por assenar nos motins" . O fundidor parece que sempre se tenha alheado a motins, aos protestos e agitações políticas. Mas não está fora a hipótese que dava uma cravo e outra na ferrura, aparentando estar fora de conflitos e escreveria mais tarde: "imenço trabalho e gramdicimas despezas da minha fazenda descubri esta fundição de ferros" e acrescentava: "assim em tanta deminuiSão vay minha fazenda quanto pretendo se poupe a de Sua Mag.de, despendendo da minha o que per razão se devia despender da Sua Real Fazenda". De qualquer maneira e mau grado que houvesse: " as difficuldades todas q são muitas e muy grandes". Ora Manuel Bocarro pelo que depois escreve mais à frente tinha investido muito capital na sua fundição e continuava a trabalhar "no duro" para conseguir as mercês que jamais lhe sairiam do pensamento: "a poder de dinheiro (que) fico pondo muito da minha casa... (sem) esperar ganhos e reganhos" e na mira da recompensa: "honras e merces". Depois da Restauração e entronizado D.Joáo IV e aclamado em Macau com toda a legitimidade de Rei de Portugal, o monarca procurou acalmar os ânimos da população e concede-lhes regalias e privilégios e decretou acções disciplinares que incluiam a expulsão dos piores elementos e um castigo aplicado ao capitão geral por ter "esbombardeado a dita cidade com grande risco de se perderem os moradores dellas". O Conselho Ultramarino toma conta do problema da nomeação de um novo capitão geral para Macau, cuja a escolha antes era da competência do vice-rei da Índia. A escolha dos homens bons de Macau, viria a recair em D.Brás da Costa que de imediato escreveu ao Rei a agradecer a honraria com fora distinguido. Brás da Costa logo se viria arrepender e procurou de todas as formas não partir de Goa para Macau e assumir o posto. E volta a escrever ao Rei e faz-lhe uma descrição das condições de então em Macau: "mizervel estado da cidade de Macau... sem comércio careçendo até do comer ordinários". Exigiu um sem número de providências que sem as quais não seguiria para Macau. Mesmo com todas as exigências solicitadas ao Rei e atendidas por este, o Brás da Costa recusaria-se mais uma vez de partir para Macau. O Rei perante tal falta de palavra e desobediência acabou por emitir uma ordem para que fosse preso, mas tal facto não viria acontecer porque o Brás da Costa fugiu. Parece que D.Brás da Costa teria tido razões para não aceitar o cargo de capitão geral e no vários relatórios que escreveu que constituem o "Livro das Monções n.57", constituem um dos mais válidos documentos que dão conta da vida de Macau em meados do século XXII. Os seus pontos de vista chegam a ser impressionantes e dramáticas as referências das condições de vida dos habitantes: "a não poder haver nella trato de comércio". Só esporádicamente: "commercio com o Tartaro e com Manilla por via do Maccara". Mais adiante quando o comércio atingiu alguma melhoria foi abruptamente interrompido, a que se fica a dever à guerra civil na China, seguindo-se a terrível fome e a peste. Os moradores de Macau encontram-se numa situação desesperante e em 1648 escrevem ao Rei de Portugal dando-lhe conta: "a fome era tanta que mais vai servir a ElRey da China". E mencionava, ainda, que: "ahera hum espectaculo ver os mortos que todos os dias amanhecião pellas ruas, e adros das igrejas, donde botavão alguns por não terem com q.e os amortalhar". Muitos macaenses fogem para Manila e dão-se como vassalos do Rei de Espanha. D.João IV toma medidas para tentar resolver a situação em Macau, entre uma delas foi o de enviar uma embaixada ao Japão, chefiada por Gonçalo Siqueira de Souza, cujo o objectivo seria o reatamento das relações comerciais com aquele país e Macau. Em 29 de Janeiro de 1644 a embaixada largou de Goa a bordo dos navios S.André e S. António de Aveiro mas, a viagem, por não ter partido na época própria, está assim na estação da monção, foi tormentosa a navegação e perdeu dezenas de passageiros e tripulantes. Com dificuldades o navio S. André conseguiu arribar em Macau, em fins de Maio de 1645, mas o S.António de Aveiro não consegui chegar a Macau e regressa ao porto de partida Goa em 25 de Março de 1646. Em Macau levantaram-se várias questões no tocante em cima das ordens que teria recebido em Goa e como deveria actual, diplomaticamente, no Japão. Em Macau, estas não estão conforme aos interesses e desejos dos macaenses e Siqueira de Souza foi pressionado a regressar a Goa e que voltasse a Macau, depois, com novas directivas mais adequadas à situação que, então, se vivia com o Japão.Assim e para que Siqueira de Sousa (que deveria ter perfil de diplomata de agradar a Deus e aos Diabos), não criasse atritos ou até os macaenses não lhe permitirem partir para o Japao e dar cumprimento à missão diplomática que o Rei de Portugal o tinha incumbido, optou por regressar a Goa. Em 20 de Dezembro de 1645, regressa a Goa o embaixador Siqueira de Sousa e toma lugar a bordo do navio S.André, apoiado pelos navios, logísticos, Nossa Senhora da Conceição, S. Pedro, S. Tomé, Santa Cruz, Santo António e mais um pequeno barco que não ficou registado na frota. Foi a maior frota que partiu de Macau com destino a Goa, transportando a bordo cerca de 3.000 pessoas, das quais 750 eram mulheres. Macau fica praticamente despovoado, fugindo os seus moradores à morte, pela fome, que os aguardava. Todos os navios chegaram às águas de Mandovi em 20 de Fevereiro de 1646. Compreende-se que a viagem foi bem planeada, antes da chegada da monção, e a frota navegou em águas bonançosas e as velas receberam bons ventos.
CONTINUA
José Martins
P.S. O nosso trabalho vai continuar. Quando nos embrenhamos em contar a história dos portugueses no Oriente, entra em nós um fascínio dificil de controlar. Achamo-nos um homem dessa época e encontramo-nos entre os tantos que tanto deram a Portugal e ao Mundo da época quinhentista. Não faziamos conta que a história de vida de Manuel Tavares Bocarro se alongasse em tantas partes. Projectadas uma meia dúsia, mais ou menos. O nosso objectivo, de princípio estava vocacionado (continua) para descrevermos a importância, dos canhões e das armas, de Portugal no Reino do Sião, para que a soberania deste reino fosse conservada. Nós sabemos que os canhões de Manuel Tavares Bocarro contribuiram para isso. Nas nossas andanças, de peregrino, temos fortes razões de afirmarmos que os canhões de Manuel Tavares Bocarro foram importantes na defesa da identidade do reino do Sião, desde 1511 ( era de Ayuthaya), 1767 (era de Banguecoque) até aos dias que correm. Quem escreve por gosto não cansa e não nos dá o tédio quando estamos a escrever sobre histórias de portugueses, humildes como eu, da era quinhentistas. O nosso guião continua a ser a obra de páginas amarelecidas de N.Valdez dos Santos, editada em 1981, que bem merece ser divulgado o excelente trabalho que produziu em cima da vida e obra de Manuel Tavares Bocarro o Grande Fundidor. Não o conhecemos, não sabemos se ainda anda por este mundo de lobos e cordeiros.
Imagens: Parte retiradas da obra : "História das Fortificações Portuguesas no Mundo" Publicações ALFA

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