o mar do poeta

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sexta-feira, fevereiro 25

NA ROTA DOS CANHÕES 10a. Parte

Sunday, July 27, 2008

NA ROTA DOS CANHÕES - MANUEL BOCARRO - O GRANDE FUNDIDOR

Parte 10ª
Não era possível, nos escassos dez meses de governo de António Teles de Menezes, numa altura em que "era muy difficultozo haver novas da China" e o tráfego marítimo quase inexistente fazer-se a encomenda das peças de artilharia, proceder-se à sua feitura e enviá-las para Goa onde teriam chegado a tempo do ex-governador as ter visto, antes de embarcar numa pequena caravela que o levou a Lisboa. O Conde de Aveiras viu e apreciou as peças de Bocarro fundidas em 1640, porque este, na já muito citada petição afirma que este vice-rei "lhe escreveu outra carta logo que entrou a governar, em q diz o alcanse que deu aos serviços... e que fundisse o cobre q la tinha em peças de 16, e 20 de calibre e de 25 embocaduras de compri.to ,e as 24 colubrinas na forma em qu pella mesma carta lhe ordenou, prometendo lhe no fim della de lhe fazer as honras e merces q bem cahissem nos merecimentos do Supp.te "
Os vices-reis da Índia chegados a Goa, desde logo procuravam familiarizarem-se com os "cantos da casa" e, se leva a crer que teria lido a carta que o seu predecessor (se por sorte tivesse deixado o cargo em vida, numa época em que as "maleitas" e outros males afectavam) lhe teria deixado. O Conde de Aveiras visitou os principais serviços, conhecê-los, apresentar-se às pessoas que a superintendia. Um dos principais departamentos que mereciam especial atenção do vice-rei era o "Arsenal da Ribeira de Goa" que englobava a construção e reparação de navios da carreira e a fundição de canhões. De prever que o Conde de Aveiras na sua visita ao Arsenal tivesse contactado Manuel Tavares Bocarro e este, orgulhoso, lhe mostrara as 24 colubrinas que o governador Teles de Menezes mandara fundir. Em algumas peças o Bocarro ainda tivera tempo lhe incrustar a insígnia do leão rompante em louvor ao novo vice-rei. Abordou ao ilustre visitante, deu-lhe conhecimento do problema que tivera com a fundição e a têmpera, não conseguida, das peças de ferro . As 24 colubrinas apresentadas ao Conde de Aveiras, ainda não concluídos, os brocamentos e outros acabamentos onde, evidentemente, não lhe faltaria o polimento, exterior do bronze. Como se poderá analisar nas velhas bocas expostas em museu são ãutênticos, objectos de elogia à mitologia dos povos onde desde os emblemas que representam os país, aos animais (o caso do incrustação do leão rampante que representa a força, a coragem e a audácia), as plantas e os animais marinhos; os "arganeis" ao meio do canhão para levantamento e movimentação, são substituídos pelos golfinhos a sairem da água e depois em posição de mergulho. Conde de Aveiras, ordenou ao Manuel Bocarro que depois de terminar as 24 peças que acabara de ver, que fundisse outras e utilizasse todo o cobre disponível nos armazéns. Em 13 de Dezembro de 1641, segundo uma carta do vice-rei mandara preparar "hua urca de mais de 350 toneladas" para, durante o mês de Fevereiro de 1641, partiria para Macau numa viagem "per fora dos estreitos a q chamão de Sunda, navegassão noca e q há pouco descubrio". Porém as naus holandesas bloqueavm a barra de Goa, não permitindo a saida do navio. Teve que ser substituída a pesada embarcação por uma fusta que largou em Março de 1641. A fusta, conhecida também por galeota, foi fustigada pelo mau tempo, abrigou-se num porto de país amigo e conseguiu chegar a Macau depois de 9 meses de viagem, junto ao fim do ano de 1641. A fusta larga Macau em 2 de Fevereiro de 1642 de regresso a Goa mas devido a temporais (não encontrou pelo caminho os holandeses) que teve de enfrentar e queda-se a invernar em Solor e, só viria a chegar à enbocadura do rio Mandovi em 15 de Setembro de 1643, demorando, assim, 20 meses a viagem de Macau a Goa. Na fusta seguiram embarcados religiosos e em Solor deram conta que na ilha havia cobre em abundância e com eles, uma amostra, que entregaram ao Conde de Aveiras, que viria, depois, a comunicar ao Rei, em Lisboa. O monarca ficou entusiasmado com a nova descoberta, cuja carta só chegaria a Lisboa no final do ano de 1644. Não há conhecimento se teria sido transportado cobre de Solor para as fundições de Macau ou Goa, assim como as datas exactas da passagem de Manuel Tavares Bocarro em Goa. A proclamação da independência de 1 de Dezembro de 1640 e o fim da subjugação de Castela só é conhecia em Goa passado cerca de um ano. O Padre Gabriel Saldanha na sua obra " História de Goa" deixou uma pouco conhecida informação que se transcreve:
"Logo que D.João 4 se empossou do trono de Portugal, escreveu ao vice-rei da Índia, que era então o Conde de Aveiras, e ao tribunal da relação duas cartas, anunciando este facto e ordenando que o fizessem aclamar, anunciando este facto e ordenando que o fizessem aclamar, jurar e obedecer como Rei natural e verdadeiro que era. Em Março de 1641 sairam de Lisboa as primeiras naus da Índia, comandadas por Manoel de Lis e Bartolomeus Gonçalves trazendo essas ordens. Na altura de Cabo Verde, Manoel Lis pôde adiantar-se e fazendo a aclamação de D. João 4.º em Moçambique, seguiu logo para a Índia; mas, receando encontrar esquadras holandesas, que, por este tempo, infestavam os mares, aproou a Onor, donde enviou para Goa num pequeno barco seu filho André Liz, creança de 9 anos, inteligente e simpático, com as cartas del-rei, em companhia de Francisco da Silva Souto-Maior. Desebarcaram os dois emissários em Pangim e, enquanto o menino, animado de entusiasmo, próprio da sua idade, levantou clamorosos vivas a D. João 4.º , que o povo escutava com espanto e júbilo, Francisco da Silva apressou-se a ir a por terra comunicar a notícia ao Conde de Aveira em Goa. o intrépido menino foi rio acima acima ter com vice-rei, a quem entregou as cartas que trazia, instando-o a reconhecer logo a independência de Portugal e a ligitimidade do duque de Bragança. Sorriu-se o vice.rei da gentileza infantil embaixador, cuja sedutora eloquência o moveu a convocar sem perda de tempo as autoridades principais pessoas da cidade e propôr-lhes em substanciosa e patriótica fala de reconhecimento de D. João 4.º, e efectivamente, a 11 de Setembro de 1641, realizou-se em Goa a aclamação do novo soberano com grandes demonstrações de rigosijo público. A 20 de Outubro já fôra D.João 4.º reconhecido em todas as praças do oriente português".
Na primeira carta que o Rei D.João IV enviou ao Conde de Aveiras informava-o da Restauração de Portugal e determinava que avisasse todas "as partes da Índia... e a China posto q eu o tenho mandado fazer por António Fialho Ferr.ª q foi em dereitura a Machao pola via de Inglaterra". Conde de Aveiras apressou-se a responder, em 17 de Novembro de 1641, manifestando o seu júbilo e o de todos os portugueses
"per tão felice aclamação" Seguidamente indicava, entre outras coisas, que "a China se farão logo (em sendo monsão) os avisos necess.os alem dos q hei feito por alguas vias cõ a limitassão q permite hua carta q ha de hir por mãos pouco seguras, e querera Deus q lhe chegue também o q levou Ant.º Fialho Ferr.ª e muito se ha de estimar la nova da restutição de V. Mag.de a coroa de Portugal"
CONTINUA...
José Martins
Fotografias dos canhões da Ilha de Solor de Mark Schellekens e Greg Wiyncoll , publicadas no www.colonialvoyage.com/solor.html que tomamos (com a devida vénia) a liberdade de inserir nesta peça.

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