o mar do poeta

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quinta-feira, agosto 12

Unidade hoteleira fez uma recreação de um serão quinhentista no passado sábado



Foi um momento único na vida do Convento do Espinheiro como hotel”



Estamos em pleno serão de 1510. El’Rei D. Manuel, o Venturoso, está em Évora, mais precisamente no Convento do Espinheiro, vindo do Paço de Almeirim. Consigo trás nobres, jograis, grupos de música para animar os repastos repletos de carnes de caça e de sobremesas ligadas à prática festiva da vida monástica. Entrar no limbo do tempo, retroceder quinhentos anos foi o que o Hotel Convento do Espinheiro fez, no passado sábado, levando artistas, funcionários da unidade hoteleira e clientes a envergarem o momento histórico com vestidos a rigor.
“Esta noite é um momento inesquecível para todos. Tendo como cenário este magnífico claustro manuelino, convidámos algumas pessoas a participarem neste serão e a viajarem connosco até ao distante dia 7 de Agosto de 1510”, avançou o director do hotel, Rui Dinis.




O mesmo responsável explicou que a administração há muito que tem feito um esforço no sentido de perceber a história do Convento do Espinheiro e, apercebendo-se que em 1510, o rei D. Manuel tinha ficado aqui - aliás foi um dos cinco reis que ficou aqui várias vezes – “achámos um momento óptimo, já que ele ficou aqui no Verão, relembrar um pouco a corte de D. Manuel, que foi uma das mais faustosas de todos os tempos, em Portugal”.
Recorda o historiador Francisco Bilou, que interpretou a personagem de Jorge da Silveira, que a família real tinha por hábito visitar a Nossa Senhora do Espinheiro por quem D. Manuel tem especial devoção, bem como a rainha velha, sua irmã, D. Leonor, viúva de D. João II.



Neste ano de 1510, na cidade de Évora, estão quase prontas as grandiosas obras da igreja de São Francisco, onde o pintor régio Francisco Henriques trabalha no magnífico retábulo da capela-mor. A 7 de Agosto, fazendo precisamente 500 anos, o eborense Fernão Rodrigues Ramalho obtém mercê del’ Rei para o servir como escudeiro.
Foi precisamente a evocação da época manuelina – entre música, dança e poesia palaciana – que foi conseguida com as personagens históricas, com excepção do grupo musical Carmim Antiqua, interpretadas por hóspedes e convidados que generosamente se voluntariam para o efeito.
Todo o cenário de requinte ocorreu nos claustros do convento, onde foi servido o jantar aos hóspedes do hotel que tiveram a oportunidade de voltar atrás no tempo e deliciarem-se com algumas iguarias que são recriações do receituário do século XVI acompanhadas pelo afamado vinho da Peramanca, que já no século XVI era embarcado nas nossas caravelas, e o Solar dos Lobos, um dos mais premiados vinhos alentejanos, produzido pelos herdeiros de uma família com pergaminhos históricos ligados, precisamente, ao rei D. Manuel – os Lobos da Silveira, à época dos barões de Alvito.





Depois das trovas do nosso Cancioneiro Geral aqui trazidas por três fidalgos da corte, Garcia de Resende, Jorge da Silveira e Francisco Silveira – todos eles figuras históricas sepultadas no Espinheiro – foi a vez de anunciar os manjares de leite. “Estes mimos gastronómicos a que hoje chamamos sobremesas perduraram por muitos séculos ligados à práticas festivas da vida monástica. Apesar da austeridade religiosa praticada pelo clero regular, conhecemos a história de alguns destes manjares confeccionados aqui no Convento do Espinheiro, em particular nas festas do padroeiro, S. Jerónimo, celebradas a 30 de Setembro de cada ano”, salientou Rui Dinis, realçando que a sobremesa histórica de doce de escorcioneira e de manjar branco, receitas com cinco séculos de antiguidade, “vão passar a integrar, provavelmente a nossa carta gastronómica.




O director-geral mostrou-se bastante satisfeito com a iniciativa, afirmando sentir que o hotel tem a obrigação, como unidade histórica, de dar uma animação cuidada e diferente, aprendendo e recreando a história de Portugal. “Correu tudo bem e estou muito feliz porque conseguimos alcançar um dos nossos objectivos que é promover eventos excepcionais, tendo como parceiros os nossos hóspedes”, frisou.








Hóspedes devem ser embaixadores do nosso património

Para Francisco Bilou, historiador, este foi “um momento único na vida do Convento do Espinheiro, nesta versão de hotel”. Em seu entender, é importante criar a partir da história, memórias e fazer uma relação afectiva com as pessoas que visitam o hotel. “O que foi feito aqui foi precisamente a ponte entre aquilo que foi do ponto de vista histórico com aquilo que é a exigência de um hotel que quer dar aos seus hóspedes experiências únicas”, sublinhou.
Francisco Bilou adiantou ainda a importância destes espaços históricos, como o Convento do Espinheiro, serem valorizados. “Hoje foi uma experiência baseada em história, amanhã poderá assentar na arte ou na poesia”, avançou, reconhecendo que há sempre um bom motivo para visitar e ficar em Évora. “Temos de oferecer aos nossos visitantes o melhor da nossa cultura e fazer uma coisa que é muito relevante no turismo que é fazer com que as pessoas que estão, hoje, aqui, amanhã queiram regressar, sendo uma espécie de embaixadores deste nosso património”, vincou.







Turismo cultural está cada vez mais na moda

Esta iniciativa que encheu totalmente o claustro do hotel Convento do Espinheiro teve a participação de clientes que vieram de propósito de Lisboa para o hotel porque tinham conhecimento desta iniciativa. O exemplo disso é a família Silveira Ramos que vestiu diferentes gerações, desde a avó até às netas, literalmente a rigor, com trajes da época, para viver este momento histórico.Maria Silveira Ramos – Rainha D. Maria – Já tinha estado duas vezes nesta unidade hoteleira e foi convidada pelo director do hotel para estar presente neste evento. “É com agrado que aqui estamos porque o consideramos muito giro, completamente diferente do que se vê nos hotéis de charme por todo o país”, explicitou, deixando a ideia de que deveria ser uma iniciativa para ter continuidade, por ser uma forma de atrair turistas.












Maria de Lurdes – rainha velha – D. Leonor – salientou a relevância destas iniciativas, defendendo que as várias unidades hoteleiras do interior deveriam tirar partido das coisas que têm. “As férias não são apenas praias, há mundo cheio de coisas para fazer, é o conhecimento do nosso património e eu penso que é muito interessante”, justificou.
Quem foi apanhado totalmente de surpresa foi uma família espanhola, mas que aderiu de imediato. “Chegámos ontem e assim que soubemos do evento decidimos logo participar, eu como uma mulher nobre e o meu filho como um infante”, afirmou Mury, adiantando que assim ficaram a conhecer mais um pouco da história de Portugal.



FONTE - Jornal Diário do Sul - Évora





2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Confesso que gostava de participar numa destas festas.
Uma ideia engraçada, que está espalhada pelo País, e que é um excelente meio de divulgação do património existente.
Um abraço

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Eu também gostaria, mas em Macau nunca houve, infelizmente, união entre os portugueses.
Existe hoje a Casa de Portugal, que vai tentando, com enorme esforço, realizar alguns eventos, mas as caras que participam são sempre as mesmas e em Macau existem ainda, muitos velhos portugueses residentes que cairam no esquecimento.
Um abraço amigo